Validação e Customização do Escore SAPS 3 em UTIs Brasileiras
Os escores de gravidade da doença são usados rotineiramente para avaliar o desempenho e a eficiência das unidades de terapia intensiva (UTIs) para benchmarking e avaliação da tendência temporal de mortalidade ajustada à gravidade.(1-3) Esses escores também são usados em ensaios clínicos e estudos observacionais para caracterizar e estratificar subgrupos de pacientes em termos de gravidade da doença. Assim, esses instrumentos fornecem informações clínicas e administrativas valiosas.
Contudo, o desempenho de um modelo varia inerentemente em diferentes ambientes devido às diferenças na combinação de casos, manejo clínico, políticas de internação e alta, entre outros fatores.(3, 4) Além disso, espera-se que o desempenho desses escores também se deteriore com o tempo, principalmente em termos de calibração.(5, 6) Consequentemente, os escores de gravidade da doença devem ser validados antes de serem usados em um ambiente ou região geográfica específicos e reavaliados periodicamente para determinar se seu desempenho continua adequado.
O Simplified Acute Physiology Score (SAPS) 3 foi publicado em 2005 e desenvolvido a partir de um banco de dados com 16.784 pacientes internados em 303 UTIs de 35 hospitais em 35 países, incluindo o Brasil.(4) Desde 2009, a Associação Brasileira de Terapia Intensiva (AMIB) definiu o SAPS 3 como o escore de gravidade da doença recomendado para avaliar o desempenho da UTI e fazer um benchmarking das UTIs brasileiras.(7) Essa decisão foi apoiada por diferentes estudos multicêntricos.(8-10) O último estudo de validação grande e multicêntrico foi publicado em 2017 e usou dados de 48.818 pacientes internados em 70 UTIs de 50 hospitais durante 2013.(8) Nesse estudo, a equação padrão SAPS 3 (SAPS 3-SE) teve boa discriminação e calibração, mas a equação customizada para países da América Central e do Sul superestimou a mortalidade.(8) Recentemente, o cenário dos cuidados intensivos foi seriamente desafiado pela pandemia mundial de COVID-19, com mudanças significativas no manejo clínico dos pacientes e na organização e gerenciamento da UTI.(11) Portanto, a validação do SAPS 3 em uma população de cuidados intensivos pós-pandemia é necessária para avaliar se esse modelo ainda apresenta bom desempenho. Ademais, o SAPS 3 fornece informações para avaliar a eficiência da UTI utilizando o uso padronizado de recursos (TURP). No entanto, os parâmetros e métricas usados para estimar a TURP foram descritos em 2007 por Rothen et al. usando o conjunto de dados original do SAPS 3 e, até onde sabemos, não foram revalidados.(12) O presente estudo teve como objetivo avaliar o desempenho do SAPS 3 em uma coorte contemporânea de pacientes internados em UTIs participantes do Registro Brasileiro de UTIs (UTIs Brasileiras)(13) e investigar a sua eventual necessidade de customização.